Por muitos anos essa questão pairou e esteve presente na minha vida. O fato é que sempre estive observando pessoas que considerava ser verdadeiros líderes. Notava que seus diferenciais eram por talentos natos e naturais na forma de conduzir processos e guiar pessoas em qualquer área da vida. Fosse nos esportes, nas artes, nas empresas, na educação e mesmo nos ambientes familiares. Notava que existiam líderes que traziam uma força vital e uma energia natural, capazes de conquistar pessoas, prover direção, iniciar ações, guiar e liderar pessoas e conduzir situações e iniciativas de forma extraordinária.
Muitas dessas pessoas não tinham passado por cursos ou formações para obter o excelente desempenho de seus papéis, simplesmente atuavam, agiam e geravam os resultados.
Diante desses cenários e das constantes observações durante a minha trajetória em diversos ambientes onde me envolvi, seguia a minha inquietação e curiosidade por compreender e conceituar mais sobre o tema relacionado à liderança. Por isso, comecei a aprofundar o campo da observação e olhar mais para aqueles seres que considerava e, ainda considero, ícones. Especialmente, os grandes artistas da música, que mobilizam plateias e audiências inteiras por meio das suas vozes, gestos, emoções e mensagens pelo mundo afora.
Esses artistas me chamam atenção pela forma com que levam suas mensagens e a intensidade com que elas são impressas, contagiando e fazendo com que milhares de pessoas estejam vinculadas e conectadas no momento do show ou do concerto e que, ainda estendam essa conexão posteriormente.
Claro que não falo aqui de qualquer artista do momento, daquele artista que adquiriu uma fama temporária pela sua beleza física e fachada comercial, como muitos por aí, mas sim daqueles que têm algo a dizer, uma mensagem a transmitir, um movimento a imprimir e uma multidão a conduzir numa certa direção com sua proposta. Não sei se ainda temos esses ícones, mas com certeza você deve estar refletindo e lembrando de alguns nomes marcantes que geraram e, ainda, geram grandes movimentos no mundo.
A Liderança é uma capacidade a ser desenvolvida ou um dom natural?
Como deveriam ser os processos e Programas de Liderança?
Quando comecei a analisar mais de perto as biografias dessas personalidades, percebi que existia uma força intrínseca, muito verdadeira e natural nessas pessoas. Notei também que o propósito inicial delas nunca foi mobilizar multidões, mas sim expressar suas verdades e suas mensagens. O grande desejo da maioria delas era e é somente expressar algo. E muito desse “algo” tem a ver como ele (a) é na sua essência. Talvez por isso, essa força de expressão tenha tanta intensidade e naturalidade, pois reside e nasce do centro, de um vir a ser no mundo, por meio das suas formas de expressão. E nesse momento pode surgir uma questão: Mas o que isso tem a ver com liderança?
Para mim, tem tudo a ver com liderança. Pois essa força mostra ser muito mais poderosa do que qualquer técnica ou método que se fale ou se ensine sobre liderança. Essa força motriz e vital para mim é parte do propósito do artista, conectado com ele (a) mesmo (a), vinculado ao que faz no mundo com o objetivo de expressar naturalmente quem é, o que pensa e como se sente.
Essas capacidades me fizeram refletir que, talvez, parte da arte de liderar dependa dessas forças vitais, digo “LIDERAR” e não gerenciar, chefiar, coordenar e supervisionar. Por isso, chego à conclusão de que uma boa parte da liderança é nata, com espaços para desenvolvimento, claro! Entretanto, esse processo de desenvolvimento não se baseia em cursos e treinamentos pré-definidos e enlatados com fórmulas e métodos prontos, mas em programas e processos que ajudem as pessoas a se conectarem com elas mesmas, a descobrirem sua essência, seu talento e propósito para que possam ser naturais para expressar quem são no mundo.
Os líderes natos trazem essa conexão e se mantém fiéis a ela, mesmo que toda a sociedade vá contra ou os descrimine, afinal sua essência e crença são mais importantes e relevantes do que o restante que se encontra fora. Nem sempre essa conexão será compreendida ou aceita pelo mundo externo, pois se trata de estar bem com quem somos e poder demonstrar todas as fragilidades, emoções, desejos, sentimentos e também os propósitos e convicções. Portanto, a minha conclusão é que sim é possível desenvolver líderes, mas não com cartilhas e scripts a serem seguidos e nem por facilitadores que desconhecem essa conexão na sua própria vida. Afinal, liderar implica, primeiramente, em ter essas qualidades natas, que inclui a capacidade de se autoliderar. Se você não sabe quem você é e não consegue liderar sua própria vida, como vai conseguir conduzir e guiar outras pessoas à uma direção, a um propósito, a um resultado que deve ser entregue ou conquistado? O ato de liderar requer que estejamos alinhados com quem somos na totalidade.
Além disso, passa por diversas outras características ou capacidades que temos que estar atentos para estar em constante aperfeiçoamento. E podemos destacar que não são capacidades que se desenvolvem facilmente. São capacidades que, na maioria das vezes, exigirão muitos esforços relacionados ao desapego do EGO, à flexibilização, à adaptabilidade e aceitação e muitos, mas muitos exercícios de autoconhecimento.
Quando perguntamos às pessoas sobre essas capacidades de ser flexível, aberto (a) e adaptável, normalmente a resposta é um “SIM” cheio de energia e convicção. No entanto, quando são colocadas à prova por meio de práticas e situação simples do dia-a-dia, como liderar pessoas e processos, percebem o quão longe se encontram da aplicação dessas capacidades. Embora pareça fácil dizer e afirmar que temos essas capacidades, o uso e aplicação prática nem sempre estão presentes, especialmente frente às diversidades humanas que existem ao assumir a liderança de algo ou de grupos.
Além das capacidades apontadas e da naturalidade de liderar, a liderança também consiste da arte de cada um, generosa e genuinamente, de desenvolver outras pessoas, de abrir espaços para que os demais possam ser quem são e possam expressar seus verdadeiros talentos num ambiente de confiança e transparência. Como um líder reprimido/tolhido e cheio de amarras poderá construir esses ambientes de desenvolvimento livres e abertos, se ele (a) mesmo (a) não conseguiu superar essas correntes? Além disso, o líder não pode temer qualquer reação externa que não esteja condizente às suas expectativas, ou seja, terá que aceitar e compreender críticas, pontos de vista e comentários distintos aos seus gostos e que não se encaixam ao seu modelo/padrão. Terá que aceitar e interagir com questionamentos e provocações, que poderão desencadear conflitos e desentendimentos. Para isso, terá que trabalhar muito em aceitação de si, aumentando a resiliência e abertura às opiniões do mundo externo. Terá que parar de se preocupar com o que os demais pensam dele (a) e não tomar pessoal quando recebe uma crítica ou um feedback contrário ao esperado.
Ou seja, são capacidades difíceis a serem desenvolvidas. E muitas delas, para serem aperfeiçoadas, dependerão de olharmos para dentro, de atuarmos nos pilares do autoconhecimento e autodesenvolvimento. Desenvolver consciência de si é essencial nesse processo, bem como deixar, soltar e abandonar alguns padrões e crenças.
Qual a chave para liderar?
Portanto, a chave da liderança está na capacidade de cada pessoa de se conectar com ela mesma e desenvolver e manter vivas certas capacidades sutis continuamente. Estar conectado (a) consigo (a) próprio (a) é um elemento essencial, bem como a aceitação e compreensão do entorno. Algumas características que favorecem a atuação da liderança incluem:
- Se autoconhecer e manter esse processo vivo na vida constantemente;
- Exercitar o desapego, abandonando o EGO em prol do todo;
- Se autoliderar, saber quem é o que deseja na vida;
- Aceitar quem é e desenvolver propósitos maiores, mais nobres;
- Eliminar as amarras castradoras e repressoras para poder construir relações e ambientes de confiança e transparentes;
- Ser confiável consigo próprio para poder transbordar confiança aos demais;
- Encontrar sua força motriz e transmiti-la expressá-la ao mundo;
- Estar orientado ao desenvolvimento do entorno, transferindo conhecimento e inspirando os demais.
Uma das barreiras para o desenvolvimento dessas capacidades e características pode ser a falta de autoconhecimento ou um apego enorme ao EGO. É necessário exercícios diários para simplesmente SER. E quando alcançamos esse estágio, se amplia a conexão interna verdadeira para reverberar para o externo, como no caso dos artistas apontados no início desse artigo.
Logo, desenvolver líderes passa por uma trilha individual, pessoal e interior. As técnicas e métodos formatam líderes por não aprofundarem a essência de cada um, fazendo com que se perca a conexão que ressalta a naturalidade e a espontaneidade. As verdadeiras lideranças nascem do desejo intrínseco de levar algo adiante, com propósitos maiores e em benefício do todo, quase sempre.
Como deveriam ser os processos e Programas de Liderança nesse cenário?
Então fica essa questão dos formatos e desenhos dos Programas e Formações de pessoas para desenvolver as capacidades de liderança nos indivíduos. Muitos desses Programas estão direcionados ao universo das corporações, ambientes onde o sentido de liderança, talvez, tenha se perdido um pouco. Embora estejam com os títulos e rótulos de líderes, os profissionais nas corporações tem desempenhado papéis de chefes, gestores, gerentes, executivos, diretores, coordenadores e supervisores. Por isso, os Programas e Formações precisam contemplar outros desenhos e outras abordagens, que permitam despertar o SER dos participantes.
Esses Programas deverão ter como pilar essencial o autoconhecimento e diversas atividades e práticas que atuem na conexão do participante com ele (a) mesmo (a). Sessões onde haja situações que façam com que possam acessar quem são verdadeiramente e que propiciem oportunidades de desvendar e trazer à tona as amarras e as crenças arraigadas. Criar momentos que gerem incômodos e desconfortos, tão necessários para a percepção e conscientização do que é necessário mudar, ajustar ou transformar.
Além disso, devem trazer e apresentar conceitos e exemplos que mostrem a liderança sob o aspecto interior, não os destaques de supostos líderes que conquistaram riquezas ou tiveram “sucesso”. Ressaltar os legados intangíveis e sutis que o rastro de lideranças natas deixaram, ao invés dos resultados tangíveis e materiais.
Por fim, ampliar e fortalecer as capacidades de aceitação própria, estimulando os potenciais internos, aqueles que são naturais e originais de “fábrica” de cada um, onde residem os verdadeiros talentos e propósitos.
Quem sabe, a partir de novos modelos de Programas e Formações possamos formar líderes mais artistas e menos egóicos, líderes mais naturais e conectados para contagiar os ambientes empresariais e corporativos. Com o intuito de desenvolver pessoas e disseminar propósitos nobres, recheados de significado e valor para uma sociedade mais promissora e integrada.
Óbvio que uma reflexão final é válida, como forma de expandir a consciência sobre o tema relacionado à Liderança: Quando você escolhe um Programa de Liderança, seja para participar ou para aplicar na sua empresa, quais critérios leva em consideração? O que valoriza na escolha do Programa?