Essa questão surgiu durante vários momentos em que trabalhamos com times de liderança e processos de desenvolvimento de equipes nas organizações. E renasce todas as vezes que atuamos com a expansão do autoconhecimento nos nossos Programas de Desenvolvimento Humano e Organizacional. E você sabe por que?
O motivo é que observamos uma exigência enorme sobre as costas dos líderes na rotina de trabalho das empresas. São exigências por resultados que necessitam desenvolver equipes de forma diferenciada para atender as aceleradas mudanças ditadas pelo mercado de maneira geral. Já não é uma tarefa fácil liderar pessoas, porém nesse contexto frenético de mudanças e transformações menos ainda. E as mudanças requeridas passam sempre por competências e capacidades e não conhecimentos técnicos. E é aí que está a grande questão da sobrecarga nos líderes, pois desenvolver essas esferas nos indivíduos passa por atuar no autoconhecimento de cada profissional. Será que as empresas e os líderes estão preparados para esse desafio? Para olhar para esse aspecto fundamental que suporta o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das capacidades sutis que são requeridas?
A Sobrecarga da Liderança
Algumas Causas dessas Sobrecarregadas
Bom, não vamos responder de forma objetiva essa questão, mas podemos dizer que os líderes não estão preparados na totalidade. Afinal, as empresas colocam pouca atenção e energia no desenvolvimento do autoconhecimento dos seus colaboradores. E não só as empresas, mas o sistema de educação como um todo. E, ampliando um pouco mais, a sociedade de maneira geral não se interessa tanto pelo autoconhecimento para o desenvolvimento do ser humano. Infelizmente, porque acreditamos que seja a peça-chave para propiciar desenvolvimento e evolução. Deveria ser entendida como a narrativa do futuro. No entanto, temos que aceitar que ainda não é uma prioridade.
Mas voltando ao tema dos líderes nas organizações, queremos enfatizar que os desafios são enormes pelos motivos que preferimos elencar abaixo para ajudar a formar uma imagem da situação:
- Os líderes, muitas vezes, não estão preparados para lidar com o autoconhecimento para o exercício do seu próprio papel e menos para atuar junto às suas equipes;
- As empresas não priorizam o tema no plano estratégico de desenvolvimento;
- As equipes, na maioria das vezes, não estão preparadas e abertas para acessar o autoconhecimento no seu processo de desenvolvimento humano para atingir os resultados da empresa.
Por essas razões, a liderança acaba se sentindo pressionada e impotente, algumas vezes, por não dispor dos recursos para levar as equipes aos resultados esperados. E, por vezes, faz uso de técnicas ou controles ineficientes para cumprir com as exigências. No final, não desenvolve as equipes e nem a si mesmo, podendo gerar uma certa tensão e estresse.
A efetividade do exercício da liderança depende também do grau de maturidade das suas equipes. Liderar equipes que não conseguem se desenvolver ou que não estão abertas e interessadas no autoconhecimento e no autodesenvolvimento se torna uma barreira para as lideranças, já que esse processo deveria ser uma via de uma mão dupla. Se as pessoas não estão sendo incentivadas e estimuladas ao exercício do autoconhecimento nas organizações, as metas dos líderes e os resultados de desenvolvimento que suportam as mudanças requeridas poderão morrer na praia.
O desenvolvimento da capacidade de autoconhecimento de um ser humano não está na descrição de cargo do líder das organizações. A maioria da liderança está preparada para definir metas, estabelecer objetivos, realizar os processos de avaliação de performance anual, prover feedback, mas definitivamente não vemos a liderança atuando na expansão da maturidade das suas equipes. Alguns líderes, talvez, arriscam essa ação quando possuem certa habilidade, porém nem todos estão preparados e orientados a esse aspecto do desenvolvimento humano. E por que não? Primeiro pelo que já comentamos acima, que não estamos e não fomos preparados para lidar com essa esfera na nossa vida. E, segundo, porque demanda muito esforço, energia, tempo, arte e dedicação.
Olhando sob essa perspectiva, vemos onde reside a dificuldade de desenvolver equipes de alto desempenho. O cerne está nos aspectos sutis que precisam ser trabalhados nas equipes. Para que o desempenho melhore, é preciso desenvolver o autoconhecimento e as capacidades humanas nas equipes. Desempenho e desenvolvimento caminham juntos. As empresas continuam demandando novos comportamentos, habilidades, atitudes, capacidades, posturas e modelos mentais dos seus colaboradores, mas não sabem como impulsionar e promover essa mudança.
O fato é que esses aspectos requerem o despertar da consciência de cada membro da equipe para que possam ser aperfeiçoados e ampliados. Para que as equipes tenham uma visão diferente sobre o cliente, o mercado e os dados que analisam, por exemplo, é preciso que compreendam como atuam hoje e a origem desses padrões e modelos. Depende muito de ter autoconhecimento para poder visualizar em que estágio se encontram sobre cada aspecto para identificar e buscar caminhos para adotar uma nova forma de atuação. Passa, primeiramente, pelo processo de “desprogramação” dos comportamentos e modelos mentais cristalizados. Não é da noite para o dia e demanda tempo, foco e um olhar interno.
Será que a liderança está sobrecarregada pela falta de maturidade e preparo da equipe ou pela ausência de recursos e habilidades para desenvolver seu time?
Essa deveria ser uma questão a ser analisada e refletida pelos próprios líderes. Perceber se conseguem lidar com as exigências ou se se sentem como um “burro” de carga, que está tentando resolver os problemas sem muita eficácia. Válido pensar também se não estão assumindo demasiadas atividades operacionais em função da ineficiência do time e mergulhados em diversos temas que não deveriam estar envolvidos, ao invés de estarem orientados a assuntos mais estratégicos como, por exemplo, focar em soluções humanas para desenvolver as suas equipes.
Acreditamos que, devido ao aumento das exigências por resultado e a necessidade constante de transformação das organizações, as lideranças acabam se perdendo um pouco na forma de lidar com suas equipes. As exigências vêm por meio de projetos e necessidades de desenvolvimento contínuas de diversas formas, tais como: (a) as equipes têm que ser mais analíticas, (b) temos que trabalhar com os dados de forma mais estratégica, (c) precisamos atender melhor o cliente, (d) devemos ser mais inovadores e criativos, (e) necessitamos atuar de forma mais integrada e autônoma, e assim por diante. Todas essas necessidades estão relacionadas diretamente com as capacidades sutis e humanas, que não são rápidas para desenvolver e demora um certo tempo para que os resultados sejam percebidos e colocados na prática pelas pessoas.
Será que as lideranças possuem o tempo necessário para desenvolver suas equipes? Será que estão equilibradas o suficiente para desempenhar esse papel?
Infelizmente, não acreditamos que os líderes estejam dedicando tempo suficiente para o desenvolvimento das suas equipes. Vemos, por vezes, os times de liderança atolados em reuniões e “metidos” em assuntos operacionais do dia-a-dia e muito menos orientados a definir estratégias para desenvolver suas equipes. É preciso que os líderes priorizem essa atividade para que possam atingir os resultados da organização, bem como atuem junto aos times com o objetivo de possibilitar maior abertura aos processos de autoconhecimento e da autorreflexão como forma de desenvolvimento.
Então, quais seriam os caminhos de solução para a liderança e suas equipes diante desse cenário? Como podem suportar os times nos seus processos de desenvolvimento? Será que existe suporte das áreas de RH, Talentos, Gestão de Pessoas para prover as soluções para que isso aconteça? Será que existem Programas que trabalhem com o pilar do autoconhecimento destinados a ambos públicos: líderes e equipes? Será que é designado tempo e condições suficientes para que o tema seja discutido, aperfeiçoado e desenvolvido dentro das organizações?
Ao invés de darmos as soluções, deixamos essas reflexões para você, que lidera uma equipe ou que faz parte dela, possa se auto avaliar e buscar as respostas. Provocamos esse tema dessa forma porque acreditamos que, para que as organizações consigam os resultados que estão sendo exigidos e cobrados no plano estratégico junto às lideranças, será preciso adotar e incorporar novas práticas e abordagens para o desenvolvimento dos seus colaboradores. Pense sobre isso!
Excelente o texto!
Agradeço o comentário Fernanda sobre o conteúdo do texto, que teve a intenção de provocar reflexão no líder e nos liderados. Abraços e bom final de semana.