Durante muitos anos se escutou no mercado o termo Gestão da mudança para as Frentes de projetos que se dedicavam a apoiar e suportar as mudanças nas organizações, fossem cenários de projetos de Sistemas, Reestruturações, Centralizações/Descentralizações, Fusões e Aquisições ou Comportamentais, Estratégia (Identidade e Visão). Este tipo de suporte apenas fazia sentido quando o tamanho do projeto comportava incluir uma equipe responsável por acompanhar e entregar os produtos referentes à Gestão de Mudança. Nos projetos grandes, estas equipes se constituíam por diversos profissionais provenientes de diferentes áreas de conhecimento e especialidade, tanto do cliente quanto da consultoria contratada, incluindo Administração, Psicologia, RH, Comunicação e, quase sempre possuíam uma liderança que representava a frente ao lado dos líderes do projeto e PMOs. Com o passar dos anos, começamos a notar que estas equipes começaram a diminuir e se tornar menos expressivas, perdendo sua atuação e relevância. Diversos fatores levaram a este movimento, que tomamos a liberdade de pontuar alguns que acreditamos ser as principais causas:
- Redução no número de grandes projetos no mercado, especialmente aqueles relacionados às implementações de sistemas ERPs, que geravam a necessidade de mobilizar muitas pessoas e atuar com diversas equipes;
- Relevância, na percepção dos clientes, com relação à atuação da equipe de Gestão da Mudança nos projetos, uma vez que começaram a adquirir mais experiência, maturidade e maior conhecimento sobre o tema e sobre transições, se tornando mais críticos e seletivos;
- Perfil e qualificação dos profissionais que atuam com o Change Managament (nome em inglês), que deixaram de aportar valor frente às novas necessidades e realidades dos clientes, devido ao seu modelo de atuação, muitas vezes, especializados demais em entregáveis de projetos (métodos e ferramentas) e não em soluções e negócio;
Gestão da Mudança.
Jornadas de Transformação.
Quais os fatores que fazem com que a Frente de Change Management comece a refletir sobre sua relevância e atuação no mercado?
Vamos explorar as 3 principais causas, no entanto, nos enfocaremos principalmente na última, que se refere ao perfil e qualificação dos profissionais de Change Management no mercado.
Com relação à primeira causa, referente à diminuição dos grandes projetos no mercado, que envolviam várias equipes, consultorias, parceiros e áreas internas dos clientes, realmente começam a passar por transições, já que os tipos de necessidades e implementações de sistemas atualmente não são os mesmos do passado. Os novos desafios tecnológicos imprimem outra forma de implementação, bem como outros modelos de atuação. Hoje, vemos implementações mais curtas, ágeis e muitas delas dentro do conceito das Transformações Digitais, cujo suporte de Change Management, talvez, necessitará de novas abordagens e soluções. Em paralelo, os demais projetos voltados às Fusões e Aquisições, Reestruturações, Centralizações/Descentralizações, Comportamentais e Estratégico continuam acontecendo, no entanto o movimento que se percebe é que os próprios clientes estão assumindo o desafio do Change Management, em função dos aprendizados e experiências que adquiriram nos projetos que participaram. Estas vivências fizeram com que os clientes desenvolvessem e instalassem algumas capacidades e suas próprias metodologias de Gestão de Mudança. Observa-se, com maior frequência, a criação e existência de áreas internas focadas em suportar os projetos e iniciativas da organização. Também é muito comum, escutar os clientes dizendo que não veem valor em ter uma equipe de Change Management para o projeto, pois alegam que os próprios líderes dos projetos estão preparados e capacitados para exercer esta função, ou ainda que necessitam apenas de um “braço” para apoiar a liderança durante a trajetória.
Neste cenário, com clientes mais conscientes sobre as metodologias e conceitos de Change Management e, com maior compreensão das suas reais necessidades e expectativas, a contratação de profissionais e/ou equipes que suportem o tema começa a não ser mais tão necessária. Além disso, a percepção de valor dos clientes quanto a estes profissionais começa a ser questionada e o que se espera, cada vez mais, são modelos diferenciados e abordagens de valor. De uma maneira geral, os clientes não parecem estar muito satisfeitos com os serviços oferecidos e praticados pelos profissionais no mercado.
Será que os profissionais de gestão de mudança conseguirão se ressignificar para aportar valor nos novos cenários?
A pergunta inicial deste artigo teve a intenção de levar à uma reflexão sobre a necessidade de renovar e ressignificar o conceito e atuação das equipes de Change Management hoje, muito baseada em metodologias, conceitos pré-definidos, entregáveis pré-estabelecidos. A provocação visa também aprofundar o que os clientes, realmente, necessitam: são métodos e profissionais que entregam produtos empacotados de Comunicação, Stakeholders, Capacitação, Agentes de mudança, etc? Considerando que muitos clientes já conhecem estes métodos e já os possuem internamente, surge uma outra questão: O que será que agregará valor e fará diferença, então? Na nossa visão, será deixar de gerenciar as mudanças e começar a conceber e construir Jornadas de Transformação, que incluíam as necessidades do negócio e abarquem todos os aspectos humanos inseridos na transição, com envolvimento ativo do cliente. Para isso, serão incorporados métodos e ferramentas sim, porém a essência de uma Jornada está centrada em usar pincéis que desenhem soluções repletas de sutilezas humanas, refletindo a estratégia do negócio e contendo os objetivos e resultados esperados do processo. Tudo isso de uma maneira integrada e aderente à cultura do cliente.
Obviamente, fazer esta transição e modificar o modelo não acontece do dia para a noite, especialmente porque as ações requeridas têm relação direta com os profissionais que desempenham este papel no mercado.
Se trata de desenvolver os profissionais, não os treinar nem os capacitar em mais técnicas e métodos, mas aguçar as habilidades e capacidades sutis que permitirão que ingressem na abordagem das Jornadas de Transformação para aportar real valor aos clientes e amadurecer como profissional que lida e facilita processos de transição humanos nas organizações. Alguns aspectos de extrema relevância que gostaríamos de destacar incluem:
- Desenvolvimento das capacidades da atuação consultiva;
- Conscientização dos profissionais quanto aos cenários existentes no mercado e as expectativas dos clientes;
- Ampliação das práticas e uso da arte como elemento de inspiração para conceber as soluções (sua própria arte e sua intuição);
- Reconhecimento dos fatores e aspectos humanos inseridos numa transição, bem como aprofundamento e entendimento dos seus efeitos e impactos para ampliar a visão de possibilidades de soluções;
- Inserção dos elementos e objetivos do negócio dentro desta Jornada.
Construir e facilitar Jornadas de Transformação não é o mesmo que entregar produtos de Change Management. A primeira diferença é que cada Jornada é única, mesmo que sejam aplicadas soluções parecidas e, a segunda é que exigirá 100% da capacidade e maturidade do profissional para compreender o cenário, o contexto e os desafios do negócio, bem como os campos sutis e os aspectos intangíveis. Um diferencial será a capacidade do profissional de gerar e estabelecer relações de confiança, que se constrói diariamente, ao apresentar uma argumentação consistente, ao transmitir uma ideia/solução com qualidade, respaldada por dados bem elaborados e consolidados e ao propor soluções aderentes de forma assertiva. Como consequência, abrirá espaços para exercer a influência junto ao cliente, outra capacidade essencial nestas Jornadas, que, sabendo usar com maestria, sabedoria e de forma genuína, beneficiará todos os envolvidos.
Bom, talvez uma questão que faça sentido neste momento seja: Será que você está preparado (a) para fazer este movimento e começar a conceber Jornadas de Transformação nos seus clientes ao invés de Gestão de Mudança? Pense sobre isso e avalie as implicações e benefícios que podem trazer para você e para os seus clientes.