Quais são os fatores que constroem a confiança numa relação?
Essa questão é bastante abrangente e interessante, pois conviver sem confiança nas relações humanas pode desencadear diversos problemas. Em se tratando dos ambientes organizacionais, o tema da confiança desempenha um papel relevante para sustentar as atividades, os resultados e o clima de forma geral.
Quais são os fatores pelos quais confiamos em alguém?
O que é confiança e o que impulsiona a confiança?
Como desenvolver a confiança nas organizações?
Do ponto de vista da psicologia, a confiança é concebida desde a relação do bebê no útero da mãe e dos cuidados e tratos dos familiares após o nascimento. O tema da confiança no estágio da infância é constituído de acordo ao grau de afeto, cuidados e amor na rotina da família.
Durante a Fase da Juventude, o tema da confiança pode sofrer mudanças em função dos eventos que ocorrem na vida nesse período, podendo desencadear na pessoa menos ou mais confiança nas suas relações. A forma de lidar com os acontecimentos poderá influenciar no tema da confiança da pessoa nas suas relações e na vida de forma geral.
Já na Fase adulta – momento em que o indivíduo estabelece seu meio social – o tema da confiança tomará forma de acordo ao que foi absorvido e apreendido, bem como será moldado com base no meio em que frequenta e estabelece suas relações. O ambiente externo, que está em constante mudança, influencia diretamente o tema da confiança, já que a confiança depende sempre de uma relação que envolve duas ou mais pessoas.
.
Do ponto de vista Antroposófico, existe uma visão sobre confiança que aponta 3 fatores pelos quais uma pessoa confia na outra ou de que maneira a confiança é estabelecida.
Quais são os fatores pelos quais confiamos em alguém, segundo a Antroposofia?
Para aprofundar esse conceito sob a ótica Antroposófica, disponibilizamos a imagem abaixo:
De acordo ao esquema, esses 3 fatores podem ser entendidos da seguinte maneira:
Intenção: esse fator está relacionado com os princípios, valores e crenças. Um fator bastante sutil ou difícil de perceber, pois é preciso conhecer mais a pessoa para perceber se suas intenções estão verdadeiramente alinhadas com a sua forma de ser na prática. A questão aqui é que, quando sentimos que existe integridade, verdade e coerência tendemos a confiar mais. Para facilitar o entendimento desse fator, recomendamos que pense numa pessoa que você confia de olhos fechados devido aos seus valores e princípios colocados na prática cotidiana. Muito provavelmente, esses mesmos princípios estão alinhados aos que você também acredita.
Compromisso: está relacionado com a atitude de se comprometer com algo em determinada situação ou contexto. Quando a pessoa demonstra que está comprometida com suas ações e atividades, tendemos a confiar que cumprirá com o acordado e definido. Isso ocorre quando a pessoa te acompanha, comparece, trabalha junto, num esquema de parceria. São atitudes sutis, mas de extrema relevância que se nota nas pequenas ações e comportamentos. Normalmente, a pessoa demonstra preocupação em atender o que foi estabelecido.
Capacidade Técnica: essa esfera é um pouco mais tangível, pois se refere à percepção que temos da outra pessoa de ter a capacidade para realizar algo. A sensação ou crença de que o outro sabe o que deve ser feito numa determinada situação. Eu confio que a outra pessoa é capaz de resolver um problema específico porque tem as habilidades corretas. E por isso, ela consegue “entregar” essa solução ou tarefa.
Se observarmos os 3 fatores podemos ver que existe uma correlação. No entanto, podemos sentir confiança a partir de um deles ou dos 3 juntos. É possível eu sentir confiança numa capacidade técnica de alguém sem que necessariamente eu confie nas suas intenções. Porém, sem compromisso, a capacidade técnica poderá não se cumprir, já que depende do “querer” do outro fazer ou realiza-la. Nesse caso, existe uma certa dependência entre os fatores.
É importante compreender as interconexões existentes nos 3 fatores e analisar as consequências quando essas pontes se rompem visando compreender a “lacuna” de confiança que surge. Para compreender os fatores que fazem com que eu sinta confiança numa outra pessoa também é válido se fazer algumas perguntas como: Eu realmente confio nessa pessoa? Se sim, por que eu confio? Quais fatores estão fortalecidos, refletindo sobre as situações já vividas? E se não a conheço tão bem, por que razão sinto essa confiança?
Quando existe uma falha em um desses fatores, especialmente se é aquele pelo qual te gerou a confiança no outro, com certeza a ponte se romperá com facilidade. Se uma pessoa não demonstra compromisso, será difícil que os demais tenham confiança nessa pessoa. E se ela demonstrava e deixa de exercer, tendemos a sentir menos confiança ou desconfiança desse fator.
Esse panorama apresentado pela Antroposofia está refletido num outro conceito que foi pesquisado e estudado pelo Professor James H. Davis. James é professor de administração estratégica e presidente do Departamento de Administração da Universidade de Utah dos USA. Num vídeo TEDx, ele declara que após muitas conversas entre amigos, perceberam que a base para gerar negócios tinha relação direta com as relações. E compreendendo mais, percebeu que o que estava por trás dessas relações promissoras tinha como alicerce principal a “confiança”. De forma divertida e lúdica, James busca uma definição para confiança e também apresenta os fatores pelos quais confiamos em alguém.
O que é confiança e o que a impulsiona, de acordo aos estudos do Professor James?
Após os estudos, James chegou à seguinte definição para confiança: “confiança é uma disposição a ser vulnerável”. O tema da confiança diz respeito a você decidir ser vulnerável e assumir riscos. Isso significa que se eu digo que confio em alguém é porque estou vulnerável frente a outra pessoa e assumo o risco dessa vulnerabilidade.
A raiz da confiança, segundo os estudos de James, vem da “propensão” para confiar, ou seja, todos nascemos com uma propensão a correr riscos, com maior ou menor grau devido à influência da família, meios e sociedade em que cada um está inserido. Entretanto, ele foi mais além e percebeu que existem 3 impulsionadores que estão por trás do tema da confiança (que depende da percepção de cada um, é claro!):
Habilidade: A pessoa pode fazer ou tem a capacidade para fazer o que diz ter domínio? É capaz de realizar o que diz que se pretende numa função, atividade ou papel? Esse impulsionador sempre está relacionado com uma situação e um conhecimento específico.
Benevolência: Esse aspecto tem a ver com um campo menos tangível. Está relacionado com o quanto a outra pessoa se importa comigo. A outra pessoa se importa comigo? Demonstra cuidado e/ou preocupação comigo? Se sinto que existe esse cuidado, a tendência é sentir mais confiança. É um aspecto subjetivo, como quase todos dentro do tema da confiança.
Integridade: está relacionado com os valores que são demonstrados. O sistema de crenças e princípios que se vive na prática. Se estão alinhados e de acordo com os que eu também tenho e os vejo serem colocados em prática, eu tendo a ter mais confiança. Você confia em alguém por esse conjunto de valores porque você também acredita neles. Na prática, seria algo como: Se a pessoa diz que estará lá, ela estará lá. Se ela diz que é honesta, seguramente o será numa determinada situação mesmo que não seja favorável ou que tudo esteja contra para exercer essa honestidade.
Comparando ambos conceitos, podemos perceber que os impulsionadores ou fatores da confiança são muito similares. Isso significa que deve haver certa coerência. Afinal, a confiança é uma questão subjetiva que, para ser construída, depende do alinhamento dos impulsionadores com a percepção e valores de cada pessoa.
Um ponto relevante a destacar é que a confiança é como um pêndulo. Isso quer dizer que, uma vez estabelecida terá que ser mantida e regada. Afinal, um deslize nos impulsionadores poderá comprometer a relação entre as partes.
Como desenvolver a confiança nas organizações?
Dentro dos contextos organizacionais, o tema da confiança deveria ser trabalhado a partir do autoconhecimento com o intuito de fazer com que o indivíduo perceba o quanto está desenvolvendo seus impulsionadores.
Embora seja um tema abstrato e subjetivo, quando não existente, é capaz de afetar significantemente aspectos tangíveis e visíveis como os resultados internos das áreas, as relações com fornecedores e clientes e até mesmo da empresa com o mercado.
Programas e processos para desenvolver a confiança passam por desvendar os
impulsionadores da confiança de cada pessoa frente às situações práticas e cotidianas da vida. Não existe uma fórmula mágica para ter confiança nas relações dentro de uma organização. É um tema relacionado a valores, princípios e atitudes. Logo, a solução é propiciar espaços em que as pessoas “olhem” para esses aspectos internamente.
Para concluir o tema da confiança no âmbito profissional, deixamos algumas questões para reflexão: Como estão estabelecidos os fatores da confiança nas relações onde você trabalha? E como você trabalha esses fatores para que possa projetar uma percepção positiva de confiança frente aos demais?
A palavra final do Professor James Davis deixa uma dica de como construir sociedades e sistemas baseado na confiança: “Se você pretende melhorar suas relações e que os outros percebam que você é confiável, desenvolva sua habilidade, benevolência e integridade”.