Como estão as relações humanas nas organizações?
Antes de começar a discorrer sobre essa questão, provocamos um momento para sua reflexão, usando como base uma rápida avaliação sobre as opções disponíveis abaixo:
1. Saudáveis
2. Tóxicas
3. Inexistentes
Selecione a opção que melhor se adequa ao seu ambiente de trabalho hoje. Não é preciso compartilhar com ninguém, apenas refletir com base nas situações cotidianas e considerar as relações que você estabelece diariamente.
Quais são as causas que desencadeiam os tipos de relações humanas nas organizações?
Vamos explorar o tema desse artigo considerando as 3 opções com o propósito de desvendar as causas que estão por trás de cada uma delas nos contextos organizacionais. Para ajudar nessa análise, concebemos uma imagem contendo os 3 tipos e adicionamos uma breve descrição que provê a nossa percepção quando estabelecemos um contato mais profundo com as organizações.
É claro que esses tipos de relacionamentos também podem estar presentes em outros sistemas humanos, como por exemplo familiares, escolares, grupos sociais de amigos e demais instituições.
A imagem é meramente ilustrativa, pois nossa pretensão não é defender uma tese, mas sim traçar modelos e padrões que permitam ampliar a análise e tomar consciência dos contextos existentes em cada sistema organizacional.
Os tipos de relações humanas nas organizações
As relações humanas nas organizações podem ser repletas de troca, propiciando desenvolvimento mútuo ou tóxicas. Quando predomina a segunda opção, tendem a ser agressivas e com preponderância dos interesses individuais em detrimento dos coletivos. Já as relações inexistentes são aquelas em que não existem diálogos, mas parece que todos se comunicam de forma excelente por meio dos canais formais existentes.
Uma forma de identificar os tipos de relação é por meio da simples observação do funcionamento dos grupos de trabalho numa reunião ou em vivências durante os Programas de Desenvolvimento Humano. Podemos detectar também por meio de visitas pontuais à organização quando realizamos Diagnósticos ou durante as entrevistas individuais no início de um trabalho de consultoria.
Esse tema das relações humanas chama atenção, pois para que as organizações consigam atingir seus resultados, é fundamental que o sistema funcione de forma sinérgico e integrado. Todo sistema depende de um bom funcionamento para crescer e prosperar. Em cenários onde as relações não são saudáveis e/ou inexistentes será quase que impossível prosperar. Quando há resultados, é muito provável que esteja causando impacto negativo em alguma parte do sistema.
Uma organização sadia requer que suas relações sejam minimamente saudáveis. Não que tenha que ser 100% do tempo, mas predominantemente agradáveis que propiciem ambientes onde as pessoas possam se sentir bem, estabelecer trocas e conversas produtivas.
Para começar a detalhar um pouco mais sobre os 3 tipos de relações humanas que usamos como base nesse artigo, vamos discorrer cada uma delas, iniciando pelas saudáveis:
Relações Saudáveis: são aquelas em que as pessoas estabelecem diálogos, existe troca de ideias, há certa socialização de grupos que propicia espaços para dar contribuições, opiniões, pontos de vista e discutir problemas e soluções. Quando as relações são saudáveis significa que elas existem de alguma forma entre as pessoas. Existem mecanismos formais e informais onde as pessoas se reúnem para tratar temas relevantes. Nesses cenários, existem também momentos em que as pessoas socializam e estabelecem conexões pessoais para se conhecerem mais ou para falar de assuntos mais particulares.
Porém, o aspecto mais relevante da relação saudável é a abertura para diálogos verdadeiros e transparentes que permitem que todos tenham voz e se sintam escutados e respeitados.
Quando as relações são saudáveis as pessoas tendem a se sentir mais seguras para dar suas opiniões e escutar os demais em momentos de decisão e criação de soluções. Nesses cenários, a confiança floresce mais e dá espaço a conversas mais verdadeiras, sinceras e reais. O sentido comum pode preponderar.
Na contramão, há ambientes organizacionais onde as relações humanas são mais unilaterais ou pouco inclusivas.
Relações Tóxicas: esse tipo de relação leva o sistema a um ambiente mais desintegrado e agressivo ou pouco construtivo. Quando as relações são predominantemente tóxicas é normal que muitos se calem e alguns poucos se expressem. Ou então, muitos não falam o que verdadeiramente sentem ou pensam.
Além disso, esse tipo de relação pode apresentar vieses de agressividade ou ataques. As relações tóxicas não permitem que haja desenvolvimento e troca. Pode existir um certo autoritarismo que ocupa os espaços. Tendem a causar exclusividade e separação ao invés de sinergia e abertura.
Por vezes, as relações tóxicas podem se mascarar por meio de ambientes que estimulem muitas ações e atividades, com baixo envolvimento e participação efetiva de todos. As relações tóxicas causam desgastes invisíveis que poderão ser detectados nos índices de saúde e bem-estar dos profissionais.
As relações tóxicas podem estar presentes em ambientes isolados e específicos ou permeando toda a organização. Quando é predominante, é muito comum notar esse tipo de relação já na entrada da recepção da organização.
O tema da confiança é um fator que se abala constantemente em contextos onde as relações são tóxicas. É muito normal que não haja confiança e que as pessoas não expressem o que pensam e muito menos o que sentem.
No entanto, encontramos um outro tipo de relação humana bastante comum e que vem ganhando muita presença nas organizações. A esse tipo nomeamos de “inexistentes”:
Relações Inexistentes: nesse tipo de relação, há falta de troca e diálogos humanos. Observamos um aumento significativo desse padrão de relação nas organizacionais atualmente. Não sabemos ao certo se é consequência da pandemia ou se sempre existiu, mas não estava tão evidente. O que mais percebemos nesse tipo de relação é uma ligeira apatia nas pessoas. Parece que as pessoas estão anestesiadas quanto às suas emoções e opiniões.
A sensação é de desconexão e distanciamento. Entretanto, parece que todos se relacionam bem por e-mails, chats, mensagens, etc. Fluem muitas informações por esses meios, mas não existem diálogos, trocas e nem interações mais profundas e relevantes.
Esse tipo de relação vem permeando muitas organizações, em especial aquelas que se caracterizam como “cool” e “descoladas”, cujos ambientes são visualmente diferenciados e tidos como “modernos”, mas a essência não retrata essa “fachada”. Parece que todos interagem 100% do tempo, porém o que vemos é uma apatia generalizada e uma falta de relacionamento humano.
Nesses contextos, há pouca oportunidade de expressar opiniões, pontos de vista e o que cada um sente realmente. Existe um certo “vazio” no ar que se preenche pelo excesso de mensagens enviadas e recebidas pelos meios tecnológicos diariamente. As pessoas enviam mensagens para os colegas que estão sentados ao lado, mas são incapazes, muitas vezes, de estabelecer uma conversa básica quando estão frente a frente.
Por vezes, parece que todos se relacionam muito bem num rápido encontro num café, no entanto são segundos de conexão para que voltem às suas rotinas, cujas relações são reestabelecidas pelos meios tecnológicos.
Quando há inexistência das relações humanas, além de fomentar pouca inovação e criação, os seres humanos padecem de sentido e propósito, um elemento essencial da nossa espécie, que está desenhada para buscar e construir objetivos comuns por meio da socialização em grupos. Essa perda de contato e troca pode levar a um “afogamento” das emoções e da própria Identidade da pessoa.
Nas organizações onde a relação humana é predominantemente inexistente, a ponte da Identidade fica enfraquecida, rompendo o elo de identificação entre o propósito do indivíduo e da organização.
O tema relacionado à confiança não é relevante, já que as relações são inexistentes. A maior fraqueza desse tipo está relacionada à falta de objetivos comuns e conexões do indivíduo com a organização e entre as equipes. Se torna um ambiente frequentado pelas pessoas, mas que não necessariamente visa produzir ou gerar soluções e resultados. Cada ser humano está na sua pequena “ilha”, imerso no seu mundo e atividades.
Mas quais são as causas que desencadeiam esses tipos de relações humanas nas organizações?
Não temos uma resposta exata para atribuir a cada tipo, entretanto podemos apontar alguns fatores que acreditamos contribuir para a formação dos tipos de relação humana mencionados nesse artigo e compartilhar os impactos ou sintomas que são desencadeados como resultado da predominância de cada tipo numa organização. Abaixo disponibilizamos uma tabela que contém um resumo de alguns causadores e dos cenários que se constituem nas organizações (não exaustiva essa tabela):
O conteúdo descrito nessa tabela não tem como pretensão determinar todos os causadores e impactos. A intenção é trazer luz, com base na nossa percepção, e refinar constantemente a análise para facilitar o diagnóstico e poder gerar soluções humanas que possam desenvolver ou transformar os cenários. Outro valor dessa informação categorizada e organizada é a mera expansão de consciência dos distintos tipos de relações humanas que podemos nos defrontar nas organizações onde estamos ou atuamos.
Para colocar mais “pimenta” no tema, é válido ressaltar que todo sistema organizacional tem uma cultura que é constituída durante sua formação biográfica de forma natural e, muitas vezes, inconsciente. A cultura se constrói a partir dos valores e crenças que foram sendo semeadas no ambiente organizacional. Pode ser que a cultura da organização tenha contribuído para a formação de certo tipo de relação humana. Isso significará que o tipo de relação nasceu e é inerente à Biografia e aos valores existentes.
Entretanto, os tipos de relação humana também podem ser determinados em função dos modelos de liderança existentes na organização. Líderes que valorizam o fator humano podem cultivar um ambiente com relações saudáveis enquanto outros perfis poderão instituir relacionamentos predominantemente tóxicos ou inexistentes. Além disso, o meio e mercado em que a organização está inserida também poderá ser um fator que determinará o tipo de relação que se necessita para sua sobrevivência.
Ou seja, são vários os fatores que podem contribuir para que os tipos de relação humanas sejam formados nas organizações. O mais relevante, além de compreender esses fatores é identificar os impactos e os sintomas que surgem no dia-a-dia dos relacionamentos entre as pessoas, bem como trazer consciência aos envolvidos para que possam atuar e modificar, se e quando necessário.
Para finalizar o tema, retomamos ao início desse artigo resgatando a provocação de refletir sobre a avaliação de qual modelo de relação humana você está inserido na organização onde trabalha. Faça novamente a reflexão: Qual o modelo de relação humana que predomina no seu ambiente laboral? Use como base as informações compartilhadas sobre os 3 tipos e sua própria percepção e experiência.
Além da reflexão sobre o modelo, que deixa você numa posição de espectador, convidamos a um questionamento mais profundo sobre o papel que você exerce dentro desse contexto, ou seja, a pergunta seria: Quais são as suas contribuições para fortalecer e/ou enfraquecer o tipo de relação humana predominante no seu ambiente profissional? O principal objetivo desse convite é ajudar você a tomar consciência das suas atitudes e comportamentos dentro do contexto, afinal você faz parte desse sistema organizacional.
O contínuo desenvolvimento de um sistema organizacional depende das relações humanas que são estabelecidas. Quando começam a surgir problemas nessa esfera, será muito provável que os efeitos começarão a repercutir nos processos, rotinas e entregas das áreas e profissionais. Os resultados tenderão a perder qualidade e, como consequência, o próprio negócio será afetado de alguma forma no médio e longo prazo.
Portanto, é extremamente importante que os líderes e fundadores estejam “cuidando” dessa esfera chamada “relações humanas’ para que seus resultados não sejam impactados e que suas organizações possam seguir prosperando.
Além disso, com as relações humanas mais saudáveis, as organizações também estarão contribuindo para a formação de pessoais mais saudáveis. Afinal, ambientes de respeito e troca tendem a desenvolver indivíduos mais humanos e satisfeitos de forma geral, disseminando esse modelo em outros núcleos sociais.