Uma das características de sistemas humanos que se desenvolvem com maior eficácia está relacionada com a capacidade de fazer perguntas. Ambientes e relações onde existem trocas e perguntas com maior frequência e constância tendem a gerar mais inovação e desenvolvimento.
A arte de fazer perguntas é útil para diversas finalidades. Uma das mais importantes se refere a diagnósticos, investigações e entendimentos aprofundados. Quando conseguimos elaborar boas perguntas tendemos a mergulhar nos temas com mais abrangência de forma específica.
Quanto mais hábil somos em questionar, maior compreensão podemos obter das situações, do cenário e das próprias pessoas.
Quais são os fatores que inviabilizam a prática cotidiana da arte de fazer perguntas nas organizações?
No campo das organizações, a arte de fazer perguntas é fundamental para resolver problemas, para tornar as relações mais saudáveis e para ajudar no processo de desenvolvimento e evolução do sistema.
Quando adotamos a prática de questionar e elaborar perguntas para o nosso próprio desenvolvimento e autoconhecimento, podemos perceber que ocorre uma certa abertura de visão, uma expansão de consciência ou uma simples mudança de “lentes” sobre a realidade.
Esse processo acontece também nos sistemas organizacionais. Quando existe uma cultura que fomenta e permite interações que potencializam as trocas entre as pessoas, além de tornar o ambiente mais amigável e agradável, a tendência é propiciar maior desenvolvimento dos envolvidos.
A arte de fazer perguntas não é um processo estabelecido com regras e metodologia ou uma ciência. A arte de fazer perguntas é a possibilidade que existe nos ambientes de cada indivíduo perguntar, questionar, trazer suas dúvidas sobre uma situação, uma pessoa ou um problema sem ser reprimido ou mal interpretado. Deveria fazer parte dos comportamentos esperados de uma rotina saudável de trabalho. Algo que deveria nascer espontaneamente quando existe a necessidade de esclarecimento, maior compreensão e entendimento.
Para que esses ambientes existam é necessário compreender a cultura existente, pois para que haja trocas produtivas e construtivas nas relações é importante que a empresa:
- Possua líderes que estejam abertos a ser questionados pelas suas equipes;
- Tenha líderes que aceitem que demonstrar suas vulnerabilidades não significa perda de poder ou fraqueza;
- Desenvolva uma liderança que se relacione bem com as perguntas das suas equipes sem a preocupação de perder suas posições ou pontos de vistas;
- Construa um ambiente que permita que perguntas sejam feitas sem repressão ou medo;
- Considere a capacidade de fazer perguntas como um comportamento de valor ao invés de ser entendida como deficiência ou motivo de “chacota” entre as pessoas;
- As áreas que são responsáveis por “cuidar” das pessoas estejam bem preparadas para receber as perguntas e dar uma devolutiva, quando oportuno;
- Estimule as pessoas a entrar em contato com a sua própria vulnerabilidade como parte do processo de crescimento e desenvolvimento pessoal;
- Implemente Programas que exercitem a arte de fazer perguntas como uma capacidade do cotidiano para a melhoria das relações e para o processo de desenvolvimento organizacional;
- Trabalhe na capacidade da escuta ativa, permitindo que todos aprendam a valorizar a importância da abertura e atenção às perguntas dos demais;
- As pessoas tenham o direito e o dever de se expressar por meio das suas perguntas em qualquer situação e contexto com o objetivo de promover esclarecimentos, alinhamentos e troca;
- Cultive a tolerância ao erro como forma de aprendizado constante e desenvolvimento contínuo dos envolvidos
Uma organização que pretende ser inovadora, possuir um clima saudável quanto às relações humanas e estar em constante desenvolvimento e crescimento deve estar atenta aos pontos mencionados acima. Construir uma cultura voltada ao desenvolvimento e inovação deveria considerar esses pontos no pilar estratégico da organização. O sistema organizacional existe para obter resultados financeiros, porém para conseguir obter esses resultados tangíveis, será preciso trabalhar nos recursos humanos envolvidos. De outra forma, os resultados financeiros não se sustentarão no médio e longo prazos.
Quais são os fatores que inviabilizam a prática cotidiana da arte de fazer perguntas nas organizações?
Com base nos exercícios que realizamos nos Programas de Desenvolvimento Humano nas organizações, percebemos que existem algumas barreiras comuns que dificultam construir e sustentar uma cultura que preza e pratica a arte de fazer perguntas.
Essas barreiras foram classificadas em 3 grandes áreas para podermos ter uma compreensão e reflexão mais ampla. Na imagem abaixo apresentamos essas áreas:
- A área da LIDERANÇA é apontada como umas das barreiras mais presentes nas organizações. Isso significa que o perfil dos líderes não contempla a abertura junto às suas equipes de trocas frequentes, interações e perguntas para desenvolvimento. É tido como autoridade ou distante e, muitas vezes, não está aberto a ouvir os questionamentos e as perguntas por medo de perder poder, sua opinião ou seu “lugar”.
- A área do EU sinaliza que nem todas as pessoas estão conscientes do tema e da prática. Além disso, algumas tem dificuldades de elaborar perguntas por receio de se sentir inferiorizadas ou menos perante aos demais, especialmente em grupos e reuniões onde estão há muitas pessoas. Esse receio inibi o indivíduo de colocar suas questões e fazer suas perguntas.
- A área das RELAÇÕES se encontra em destaque especialmente quando partimos para as práticas, pois é notório que as barreiras estão na cultura instalada que fomenta pouca troca e diálogo que promova as perguntas. De um lado tem quem não se sente confortável em fazer perguntas e do outro de interagir e responder com reflexões construtivas.
Essas áreas nos mostram a grande necessidade de trabalhar as relações das pessoas na organização para promover uma cultura mais aberta. Além disso, nos indica a importância de desenvolver as lideranças e a esfera individual, priorizando o autoconhecimento.
Essas experiências nos deixam contentes e, ao mesmo tempo, inquietos porque sabemos da importância das perguntas e das trocas entre as pessoas para ter uma cultura de desenvolvimento e inovação. Não podemos trabalhar apenas com o desejo desse conceito, é preciso exercitar e praticar para que as pessoas percebam e tomem consciência onde estão as barreiras nelas e no entorno com foco na transformação.
Será que estamos abertos a escutar as perguntas e a compreendê-las para tornar nosso entorno mais saudável e voltado ao desenvolvimento?
Deixamos essa questão provocativa para ativar a reflexão individual sobre o quanto estamos abertos a escutar as perguntas, dispostos a dialogar verdadeiramente com as pessoas, entender seus pontos de vista, bem como elaborar boas perguntas para semear o desenvolvimento.
Será que estamos dedicando tempo ao que é essencial e importante nas nossas relações nas organizações ou imersos em reuniões e agendadas “bloqueadas” para nos esquivar do que é fundamental e relevante para tornar nossos ambientes mais interativos, compreensivos e inovadores?
Uma cultura de desenvolvimento precisa de trocas, respeito e muita interação com uso de perguntas para que as pessoas possam refletir, aprender, interagir de forma leve e criativa. O desenvolvimento se dá quando existe um ambiente que propicia esses espaços.