Essa questão muitas vezes não é dita dessa forma quando existe uma solicitação de desenvolvimento humano nas organizações, mas é sutilmente mencionada de outras maneiras. Quando surge a dúvida sobre a eficácia de um Programa de Desenvolvimento, essa questão está por trás, quando há um questionamento sobre os resultados dos processos de desenvolvimento humano também.
E na verdade, é uma boa questão a ser colocada na mesa quando existe a necessidade de elaborar e realizar um Programa de Desenvolvimento Humano ou Organizacional. Afinal, são várias pessoas envolvidas e medir os resultados passa a ser um grande desafio.
Como tocar um instrumento conceitualmente?
Como desenhar um Programa de Desenvolvimento Humano e Organizacional alinhado aos objetivos do negócio?
Por isso, entendemos que os Programas de Desenvolvimento Humano ou Organizacional não devem ser apenas palestras expositivas ou pílulas pontuais. Esses Programas devem ser concebidos a partir da premissa de que a vivência e o autoconhecimento são os fatores mais relevantes para que haja sucesso. A abordagem que será usada deve levar em consideração atividades práticas sobre os conceitos que são apresentados. Se o objetivo é desenvolver capacidades de liderança, por exemplo, o Programa deve não somente transmitir conceitos como exercitá-los e criar espaços para reflexão com o objetivo de processar o apreendido na prática por cada indivíduo.
O mesmo ocorre quando existe a necessidade de incorporar outras capacidades, como o objetivo de desenvolver equipes mais analíticas, mais integradas ou mais autônomas. Existem milhares de conceitos e metodologias sobre esses temas no mercado, mas como serão colocadas em prática dependerá de cada necessidade, contexto e cenário.
Em diversos campos da nossa vida, essa questão tem relevância, afinal somente falar de algo e não saber como realizar esse “algo” não serve para nada. Se conceituamos algo é importante saber como colocá-lo em prática. A partir da prática é que podemos ser ainda mais conceituais sobre um tema, podendo até mesmo reconstruir o conceito.
Vincular o conceito à prática no campo do Desenvolvimento Humano e Organizacional é uma arte que requer simplicidade. Muitas vezes, os conceitos relacionados ao desenvolvimento humano se tornam muito filosóficos e complexos. E não deveriam ser porque estamos falando de comportamentos humanos que estão acessíveis no nosso dia-a-dia. Sendo assim, a tradução desses conceitos deve ser simplificada e uma das formas para que isso ocorra é vivenciándo.
Não podemos falar de desenvolvimento humano, é preciso vivê-lo, experimentá-lo. Claro que essa abordagem pode assustar algumas pessoas das próprias organizações. No entanto, é a única forma de tornar os conceitos práticos e concretos.
Como posso tocar piano conceitualmente?
Todo conceito tem que andar de mãos dadas com a prática. Isso é válido quando aprendemos a dirigir, andar de bicicleta, cozinha, surfar, tocar algum instrumento. Eu não posso dizer que sei tocar piano conceitualmente.
Eu preciso colocar a mão nas teclas do piano e mover os dedinhos de acordo às notas da partitura para me certificar de que consigo produzir algo. O mesmo ocorre, ou deveria ocorrer, quando estamos desenvolvendo comportamentos, atitudes e capacidades.
Não podemos falar sobre liderança, sobre escuta ativa ou ser mais analítico se não colocamos essas capacidades na prática do nosso dia-a-dia. E como podemos colocar em prática? De forma simples, temos que conceber Programas de Desenvolvimento Humano e Organizacional que permitam aos envolvidos exercitar em situações práticas os comportamentos. E ainda criar momentos em que possam se “olhar” para perceber as fortalezas e as áreas de oportunidade, bem como os padrões. Uma outra forma, é construir Jornadas de Desenvolvimento Humano e Organizacional que estreitem as relações para propiciar confiança mútua, possibilitando os feedbacks entre os participantes para que um contribua com o processo de desenvolvimento do outro.
Por isso, os Programas não podem ser doses curtas com pílulas mágicas. É preciso desenhar uma Jornada integrada que sustente as relações e permita o exercício e práticas dos conceitos que estão sendo desenvolvidos. Afinal, comportamento não é conceitual, é vivencial e pode variar diante do cenário e situação que temos à nossa frente na vida.
Sob essa ótica, é preciso que as organizações tenham consciência de que ao contratar um Programa de Desenvolvimento Organizacional, que visa contribuir como um pilar da estratégia de crescimento da empresa, deve ser considerada uma Jornada prática e mais vivencial. Essa Jornada deve ser desenhada considerando os objetivos e resultados esperados pelo negócio.
A arte está na capacidade da consultoria em transformar a necessidade da empresa em algo prático e real, que atenda à realidade do dia-a-dia dos envolvidos.
Mas como desenhar um Programa de Desenvolvimento Humano e Organizacional alinhado aos objetivos do negócio?
O primeiro passo é compreender os principais objetivos esperados com o Programa que está sendo solicitado por meio de uma entrevista ou conversas com os Stakeholders das áreas de negócio. Além disso, algumas recomendações para conceber algo efetivo devem incluir:
- Realizar entrevistas com os participantes com o objetivo de entender o perfil e expectativas – essas entrevistas podem ser por amostragem caso o número de pessoas envolvidas seja grande
- Solicitar materiais adicionais da área ou da empresa para entender melhor o negócio, mercado e o estado atual
- Criar um Programa que contemple os objetivos do negócio associando às capacidades e comportamentos que são necessários ser desenvolvidos
- Considerar uma Jornada de encontros semanais para que haja uma cadência razoável para absorção do aprendizado e vivenciado com a finalidade de colocar em prática
- Desenhar atividades práticas que permitam que os conceitos sejam exercitados em situações criadas que estejam alinhadas com o contexto dos envolvidos
- Construir um ambiente de confiança onde cada participante se sinta à vontade para contribuir no grupo
- Avaliar o processo junto com os envolvidos a cada encontro e ao final para capturar a percepção. Solicitar que levem para o dia-a-dia o vivenciado entre um encontro e outro e pedir que compartilhem os aprendizados e resultados podem ser um mecanismo muito eficaz
Para que os Programas de Desenvolvimento Humano e Organizacional saiam das prateleiras e metodologias concebidas, é preciso adotar novas abordagens, tornando os encontros mais humanos e simples, já que se trata de aperfeiçoamento de comportamentos que todos temos acesso e podemos desenvolver.
Para atender às necessidades do negócio, os Programas de Desenvolvimento precisam levar em conta o contexto da empresa, as necessidades estratégicas e os resultados esperados.
Se você acredita que conseguiu colocar em prática na sua vida o que vivenciou em Programas passados, deixe suas contribuições no campo de comentário, pois é extremamente importante que possamos levar para nossas vidas o que experimentamos e aprendemos com foco no nosso próprio processo de transformação.